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Seguro de vida oferece pouca cobertura

Nenhum dos principais planos de seguro de vida das maiores empresas do mercado oferece integralmente as coberturas adicionais mais procuradas, como doenças graves (câncer e aids), invalidez por acidente, morte do cônjuge e invalidez por doença funcional -que não aparece em exame laboratorial.

Segundo levantamento da Proteste, associação de defesa do consumidor, feito com 9 companhias e 17 planos diferentes e obtido pela Folha, pelo menos um desses itens sempre fica de fora.

O que os produtos sempre oferecem é a cobertura por morte natural ou acidental, considerada básica.

Isso inclui a morte decorrente de doença grave, mesmo que o cliente não tenha contratado esse item.

Se tivesse um plano que inclui doença grave, poderia receber assim que a enfermidade fosse diagnosticada.

A que menos aparece é a de invalidez por doença funcional.

Segundo o Proteste, muitas vezes o consumidor não entende que as coberturas adicionais não são oferecidas porque os contratos são confusos, com muitas páginas e termos técnicos.

Como os seguros de vida são contratos de adesão (com regras estabelecidas por um órgão regulador), não é possível alterá-los posteriormente. Portanto, informar-se dos detalhes antes de assinar os documentos é essencial para o consumidor, diz Gisele Rodrigues, técnica da Proteste.

PRÊMIO

“Ao se deparar com o termo ‘prêmio’, por exemplo, o segurado pode pensar que esse é o valor que receberá de indenização, quando, na verdade, é o custo que pagará à operadora”, ressalta.

“Mesmo que os contratos tragam glossários para esses termos, é difícil manusear tantas páginas”, disse.

Segundo ela, poucas empresas disponibilizam os contratos em seus sites.

Sem conseguir avaliar se o produto atende às necessidades, o consumidor acaba confiando no corretor.

“A situação é ainda pior em seguros que são oferecidos automaticamente na aquisição de cartões ‘private label’, como os das lojas de departamentos, que acabam sendo contratados pelo consumidor pelo seu baixo custo.”

Olívio Luccas Filho, diretor de vida, atuária e precificação da seguradora Allianz, discorda de que haja pouca clareza. “Para elaborarmos o contrato de cada produto, seguimos um ‘checklist’ de 17 páginas. Até mesmo o tamanho da letra que será usada é regulado pela Susep [órgão regulador do segmento].”

Ivo Machado, sócio da Brasil Insurance, empresa de corretagem, diz que o corretor é a principal fonte de informação do segurado. “O corretor precisa ser bem preparado. É dele a função de explicar.”

Antonio Carlos Fonseca, chefe de gabinete da Susep, afirma que o órgão não estipula as cláusulas dos contratos, mas analisa a redação.

“Trata-se de um contrato que deve resguardar direitos e deveres e que pode se tornar complexo, mas a Susep sempre busca tornar a redação clara ao consumidor.”

Valor de apólice deve cobrir 5 anos de renda

Especialistas recomendam que, ao contratar um seguro de vida, o consumidor preveja uma indenização equivalente a cinco anos da renda familiar.

“Esse valor daria tranquilidade para a família reconstruir a vida financeira em caso de morte do principal provedor”, afirma Olívio Luccas Filho, diretor de vida, atuária e precificação da Allianz Seguros.

É preciso ter em mente, porém, que, quanto maior o valor da indenização, mais caro é o seguro.

Para que o cálculo fique correto, é importante que o consumidor saiba precisamente qual é a renda familiar anual.

Também é preciso computar despesas adicionais que podem surgir com o tempo, como com a faculdade dos filhos e gastos médicos.

Somente com esses dados será possível calcular o capital segurado (valor da indenização por morte ou acidente) mais adequado.

Outra recomendação é pesquisar o histórico da seguradora e do corretor e ler atentamente a apólice antes da contratação.

CLÁUSULAS

Também é preciso ficar atento às cláusulas de exclusão do contrato. As mais comuns, diz Gisele Rodrigues, técnica da Proteste, associação de defesa do consumidor, são o suicídio nos dois primeiros anos de contrato e as doenças preexistentes.

“O consumidor não pode omitir essas enfermidades no momento da contratação. Se a morte ou a invalidez ocorrer por causa delas, a família não receberá indenização”, diz.

Seguradoras contestam pesquisa da Proteste e dizem oferecer produto ideal

Procurada pela reportagem da Folha, a Allianz afirmou que a empresa possui um produto ideal, que foi bem conceituado pelos serviços que oferece, como a assistência funeral.

A Mongeral Aegon contestou, em nota, o resultado da pesquisa da Proteste.

“A Mongeral Aegon ressalta que não reconhece os resultados apresentados na análise, uma vez que eles não retratam de maneira fidedigna os serviços e produtos oferecidos pela seguradora.”

Já a Icatu destacou, também em nota, que dá opções ao cliente.

“O Special Vida é um produto que proporciona grande flexibilidade na escolha das coberturas.”

A MetLife não quis se pronunciar, pois, de acordo com a empresa, sua variedade de coberturas é maior do que a apresentada na pesquisa.

A SulAmérica afirmou que, por não ter tido acesso ao detalhamento da pesquisa, não poderia fazer uma análise.

De acordo com a empresa, sem maiores detalhes, a interpretação da diferença entre os produtos mais bem avaliados e o da SulAmérica fica comprometida.

Para a ACE, a pesquisa não levou em conta toda a variedade de opções oferecidas pela empresa.

Por não terem tido acesso à íntegra da pesquisa, a Bradesco Vida e Previdência e a Porto Seguro também não se pronunciaram.

Procurada, a Marítima não respondeu à solicitação da reportagem.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO – MERCADO